13 setembro 2009

A ARTE É APÁTRIDA MAS NÃO APARTIDÁRIA.

I
Conheço poucos portugueses que saibam “falar de arte “ , para ajudarem-nos a compreende-la, sem envenenarem a arte ou o artista.

Com isto , Richard Wagner (1813/1883) , disse tudo :

“ Se tivéssemos uma verdadeira vida não teríamos necessidade de arte.

A arte começa precisamente onde cessa a vida real “.


Seja bem-vindo ao Barreiro, uma terra triste e sem atractivos, o elemento escultórico de Malangatana.


II

O Barreiro perdeu-se nos tempos ,a desperdiçar energias ,a falar do passado, em quezílias partidárias e em moralidades políticas, desprezando a cultura ,cultura, e, por ignorância e facciosismo partidário, nunca soube lidar com os seus;


... o Cândido, o Marinho, o Cabanas, etc.etc., não esquecendo o desprezo com aqueles que agora começam.

Um drama cultural tabu.


Isto leva-nos a ser tolerantes com a pegajosidade ao actual poder autárquico dos nossos talentos no que escrevem e no que dizem. Triste.


É esta a regra do jogo.

O elemento escultórico, que vai ser inaugurado no próximo dia 14, vai dar pano para mangas neste Barreiro aculturado atascado de ódio e de ócio intelectual.


III

Jorge de Sena (1919/1978), um Homem perseguido e ostracizado pelos Salazaristas e comunistas.


(licenciado em engenharia civil) académico, um dos maiores vultos da cultura portuguesa do século XX, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, poeta, crítico de literatura e tradutor, um gigante das letras, voltou à sua Pátria cinquenta anos depois de um exílio forçado, na sequência de um golpe falhado para derrubar Salazar em 1959 que ficou conhecido pelo Golpe da Sé.


O facto de ser um homem livre, não dependente partidariamente, levou a que o 25 de Abril o tratasse com desdém, não regressando como outros à sua actividade académica, porque nunca tinha sido um “antifascista “.


Que adianta dizer-se que é um País de sacanas?
Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.

Sena o”país dos sacanas “

Os seus restos mortais transladados, trinta anos depois, do cemitério de Santa Bárbara, na Califórnia, passaram pela Basílica da Estrela, e ficaram onde não deviam ficar, nos Prazeres.


Nos tempos modernos, como não foi fadista, não tem lugar no Panteão Nacional.


IV

(…) apenas se fala do que se não fala,
apenas se vive do que não se vive,
apenas liberdade é uma miséria
sem nome, sem futuro, sem memória

E a miséria é isso: não imaginar
o nome que transforma a ideia em coisa ,
a coisa que transforma o ser em vida,
a vida que transforma a língua em algo mais
que o falar por falar .


Sena 1989

Boa noite.