15 março 2009

O ÚLTIMO TRIUNFO É INTERDITO AOS HERÓIS QUE NÃO O SÃO!

No Barreiro Novo quantos serão os pássaros, passarinhos e passarões, cucos e aves-de-capoeira?

As passarinhas? Os passaralhos?

Se nesta terra as gaiolas e os viveiros de pássaros são passarinheiros, será o tranquilo pardal, confiante aos saltitos, um passarinho ou uma ave de rapina?

Quantos cucos vivem a pôr os ovos nos ninhos dos outros?

E de corvos falantes? E de pássaros-bisnaus?

Onde estará o canário cantador que já não canta ?

E o papagaio palrador que palra por tudo e por nada, que promete tudo e que o ouvimos há muito tempo, não chegou hora dele pagar as promessas?

Quantas aves de rapina nidificam neste Barreiro Novo …dos Passarões?


OS PASSARÕES NÃO PASSARÃO!

Não passarão!
Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!
Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.
Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.
Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!
Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!
Miguel Torga


E quantos pássaros se foram embora?

Olha, o teu pássaro já não volta. Foi-se embora!






Boa noite.