(937) EURO VS ESCUDO (XVI-XX).
XVI
Será antes ou depois de decidirmos um programa cautelar ou
uma saída limpa?
Seguramente depois. Para nos levarem a sério, só faria esse
pedido se fosse capaz de mostrar que, com isso, o défice acabava. Não acredito
numa reestruturação, continuando a haver défice. Se reestruturo e mantenho
défice, a seguir vou lá pedir para me emprestarem mais. Ora, este negócio só é
aceitável se não for pedir mais dinheiro. Não estão ainda reunidas condições
para isso.
XVII
- E por agora: programa cautelar ou saída limpa?
A política tem razões que a razão desconhece. Fica sempre
bem dizer que há saída limpa. Não me comovo muito com isso. Um programa
cautelar funcionaria como um seguro. É um acordo que se faz, já não com o FMI,
mas sim com o BCE e a Comissão Europeia: se Portugal tiver que emitir dívida,
emitirá; se não a conseguir colocar, a Comissão Europeia e o BCE acodem e
ajudam a coloca-la. O risco maior da saída limpa é alguém convencer-se de que o
problema está resolvido e começar a gastar dinheiro outra vez. Com um programa
cautelar isso não acontece, porque alguém vem aí lembrar que não pode ser
assim. É melhor para o interesse nacional. A dificuldade é que os países do
Norte não querem. No Sul, para travar a extrema-esquerda, quanto mais dinheiro do norte
melhor. Mas quanto mais dinheiro o Sul for buscar ao Norte, mais e
extrema-esquerda avança no Norte. A senhora Merkel já deu a entender que não
vai haver programa cautelar. Quer a chamada terceira via, um acordo interno
entre o PS e o PSD, para que se assumam os compromissos exigidos pelos
credores.
XVIII
-Defende um acordo PS-PSD?
É evidente. E lógico, desde que não se esteja a fazer contas
a votos. É um seguro. Quando contracto um seguro contra incêndios ou roubos não
estou a dizer que vou ter um incendio ou que vou ser roubado. Estou a dizer que
se vier um incendio ou for roubado tenho ajuda. Posso negociar um programa
cautelar sem ir lá depois buscar o dinheiro. Provavelmente, a simples
existência desse seguro faz com que a dívida seja colocada. O problema são as
condições.
XIX
- Uma delas é pôr a economia a crescer 3% ao ano. Como?
É preciso fazer mais 5 mil milhões, basicamente, em
exportações. Se a exportação crescer, há mais gente a trabalhar, que, depois,
vai comer aos restaurantes e comprar às lojas. No segundo ano, bastam 4 mil
milhões, porque os 5 mil milhões do ano anterior arrastam o mercado interno. O
problema é que não vai haver mais AutoEuropas. Precisamos de muitas empresas pequenas
a facturar muito para, juntando tudo, chegarmos lá. Mas são as exportações que
têm segurado a economia. E não me digam que são só os refinados da Galp…
XX
- Mas são, sobretudo, os refinados. Não há demasiada
excitação com o aumento das exportações?
Cerca de metade do crescimento das exportações poderá vir
dos refinados. Mas está-se a exportar mais. Nos últimos anos, a grande maioria
dos e sectores ganhou quota nas exportações mundiais. É preciso não ficar
demasiado contente, quando metade é derivados de petróleo. Mas também é verdade
que, mesmo sem isso, as exportações têm crescido.
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