10 junho 2014

(937) EURO VS ESCUDO (XVI-XX).








XVI

Será antes ou depois de decidirmos um programa cautelar ou uma saída limpa?

Seguramente depois. Para nos levarem a sério, só faria esse pedido se fosse capaz de mostrar que, com isso, o défice acabava. Não acredito numa reestruturação, continuando a haver défice. Se reestruturo e mantenho défice, a seguir vou lá pedir para me emprestarem mais. Ora, este negócio só é aceitável se não for pedir mais dinheiro. Não estão ainda reunidas condições para isso.

XVII

- E por agora: programa cautelar ou saída limpa?

A política tem razões que a razão desconhece. Fica sempre bem dizer que há saída limpa. Não me comovo muito com isso. Um programa cautelar funcionaria como um seguro. É um acordo que se faz, já não com o FMI, mas sim com o BCE e a Comissão Europeia: se Portugal tiver que emitir dívida, emitirá; se não a conseguir colocar, a Comissão Europeia e o BCE acodem e ajudam a coloca-la. O risco maior da saída limpa é alguém convencer-se de que o problema está resolvido e começar a gastar dinheiro outra vez. Com um programa cautelar isso não acontece, porque alguém vem aí lembrar que não pode ser assim. É melhor para o interesse nacional. A dificuldade é que os países do Norte não querem. No Sul, para travar a extrema-esquerda, quanto mais dinheiro do norte melhor. Mas quanto mais dinheiro o Sul for buscar ao Norte, mais e extrema-esquerda avança no Norte. A senhora Merkel já deu a entender que não vai haver programa cautelar. Quer a chamada terceira via, um acordo interno entre o PS e o PSD, para que se assumam os compromissos exigidos pelos credores.

XVIII

-Defende um acordo PS-PSD?

É evidente. E lógico, desde que não se esteja a fazer contas a votos. É um seguro. Quando contracto um seguro contra incêndios ou roubos não estou a dizer que vou ter um incendio ou que vou ser roubado. Estou a dizer que se vier um incendio ou for roubado tenho ajuda. Posso negociar um programa cautelar sem ir lá depois buscar o dinheiro. Provavelmente, a simples existência desse seguro faz com que a dívida seja colocada. O problema são as condições.

XIX

- Uma delas é pôr a economia a crescer 3% ao ano. Como?

É preciso fazer mais 5 mil milhões, basicamente, em exportações. Se a exportação crescer, há mais gente a trabalhar, que, depois, vai comer aos restaurantes e comprar às lojas. No segundo ano, bastam 4 mil milhões, porque os 5 mil milhões do ano anterior arrastam o mercado interno. O problema é que não vai haver mais AutoEuropas. Precisamos de muitas empresas pequenas a facturar muito para, juntando tudo, chegarmos lá. Mas são as exportações que têm segurado a economia. E não me digam que são só os refinados da Galp…

XX

- Mas são, sobretudo, os refinados. Não há demasiada excitação com o aumento das exportações?

Cerca de metade do crescimento das exportações poderá vir dos refinados. Mas está-se a exportar mais. Nos últimos anos, a grande maioria dos e sectores ganhou quota nas exportações mundiais. É preciso não ficar demasiado contente, quando metade é derivados de petróleo. Mas também é verdade que, mesmo sem isso, as exportações têm crescido.














- Continua -

Boa noite.