10 junho 2014

(935) EURO VS ESCUDO (I -VII).













I

- Até quando vamos dizer “o País está melhor, mas as pessoas estão pior “?

Nem sou capaz de dizer que o País está melhor. As pessoas têm menos emprego, ganham menos e pagam mais impostos. Estão pior do que quando a troika cá chegou. Há uma diferença: em 2011 [Sócrates], estavam sentadas dentro de um veículo que as levava a uma morte certa, o País inteiro caminhava, com aqueles níveis de défice e endividamento, contra a parede.

II

– E, agora, estamos só tipo náufragos, no alto-mar?

[Risos] Estamos pior, mas já numa de esperar para ver. Nas contas externas, o Estado endivida-se, mas as famílias e as empresas não. A dívida privada diminui mais do que aumenta a dívida pública. Mas a dívida externa amortizada foi a das empresas e famílias. O Estado mantém um défice muito grande, continua a endividar-se.
III
- A alternativa, à austeridade prolongada é sair do euro?

Não sei se alguém quer sair. Há o dr. João Ferreira do Amaral, mas ele também nunca quis entrar. Há vozes isoladas, do Bloco e do PCP, mas não posições partidárias assumidas. A esquerda portuguesa – se a expressão me é permitida – ainda não tomou posição clara de querer sair. Quer continuar no euro, mas não quer este nível de austeridade. E quer que os alemães paguem se algo correr mal. É a posição mais cómoda. O grande problema da saída do euro…
IV

- … é que ninguém sabe como isso se faz ?

Há algumas certezas. Sair do euro é regressar ao escudo, que teria um câmbio, talvez, de 260 a 280 escudos por euro. Uma desvalorização de 30% a 40% é que se admite como necessária. Isso tem consequências, a principal das quais é que os produtos importados encarecem na mesma medida. Como metade do que as pessoas consomem é importado, uma desvalorização de 30 % a 40% reduz em 15 % a 20 % os salários de toda a gente.
V

- E como ficaria o crédito da casa?

Não é claro. A questão é saber se os depósitos bancários continuam em euros ou são convertidos e desvalorizados. Há quem diga que podíamos sair e os depósitos continuarem em euros, sendo convertidos à medida que fosse feita a desvalorização, para os depositantes não perderem dinheiro.

VI

- Teríamos um país a funcionar com duas moedas?

A minha tese é: se a banca mantivesse os depósitos e os créditos em euros, rebentava com as empresas. Porque estas passam a facturar menos, sobretudo as que vendem no mercado interno. A única maneira de não matar a economia de uma vez só é converter os passivos das empresas e das famílias na moeda nova. O que significa desvalorizá-los. Assim, o passivo não se agrava, mas perde-se nos depósitos, que passam para uma moeda mais fraca. Se for ao estrangeiro e converter a moeda, recebe menos. Se comprar cá dentro, também perde dinheiro, porque os preços dos produtos importados sobem. A inflação tende a descontrolar-se. Todos perdem. Já uma vez desafiei o prof. João Ferreira do Amaral a ser claro. Como é que resolvia o problema dos depósitos e das dívidas aos bancos?

VII

- Não teve resposta?

Até ver não. Não acho possível que os depósitos fiquem em euros. Porque se continuarem em euros, os créditos também têm que estra em euros e as empresas não aguentam. Porque o valor do que vendo em escudos vai baixar, quando comparado com a dívida em euros. O crédito fica prejudicado. Será muito difícil manter as dívidas internas, das famílias ou das empresas, em euros.













- Continua-

Boa noite.