(935) EURO VS ESCUDO (I -VII).
I
- Até quando vamos dizer “o País está melhor, mas as pessoas
estão pior “?
Nem sou capaz de dizer que o País está melhor. As pessoas
têm menos emprego, ganham menos e pagam mais impostos. Estão pior do que quando
a troika cá chegou. Há uma diferença: em 2011 [Sócrates], estavam sentadas
dentro de um veículo que as levava a uma morte certa, o País inteiro caminhava,
com aqueles níveis de défice e endividamento, contra a parede.
II
– E, agora, estamos só tipo náufragos, no alto-mar?
[Risos] Estamos pior, mas já numa de esperar para ver. Nas
contas externas, o Estado endivida-se, mas as famílias e as empresas não. A
dívida privada diminui mais do que aumenta a dívida pública. Mas a dívida
externa amortizada foi a das empresas e famílias. O Estado mantém um défice
muito grande, continua a endividar-se.
III
- A alternativa, à austeridade prolongada é sair do euro?
Não sei se alguém quer sair. Há o dr. João Ferreira do
Amaral, mas ele também nunca quis entrar. Há vozes isoladas, do Bloco e do PCP,
mas não posições partidárias assumidas. A esquerda portuguesa – se a expressão
me é permitida – ainda não tomou posição clara de querer sair. Quer continuar
no euro, mas não quer este nível de austeridade. E quer que os alemães paguem
se algo correr mal. É a posição mais cómoda. O grande problema da saída do
euro…
IV
- … é que ninguém sabe como isso se faz ?
Há algumas certezas. Sair do euro é regressar ao escudo, que
teria um câmbio, talvez, de 260 a 280 escudos por euro. Uma desvalorização de
30% a 40% é que se admite como necessária. Isso tem consequências, a principal
das quais é que os produtos importados encarecem na mesma medida. Como metade
do que as pessoas consomem é importado, uma desvalorização de 30 % a 40% reduz
em 15 % a 20 % os salários de toda a gente.
V
- E como ficaria o crédito da casa?
Não é claro. A questão é saber se os depósitos bancários
continuam em euros ou são convertidos e desvalorizados. Há quem diga que
podíamos sair e os depósitos continuarem em euros, sendo convertidos à medida
que fosse feita a desvalorização, para os depositantes não perderem dinheiro.
VI
- Teríamos um país a funcionar com duas moedas?
A minha tese é: se a banca mantivesse os depósitos e os
créditos em euros, rebentava com as empresas. Porque estas passam a facturar
menos, sobretudo as que vendem no mercado interno. A única maneira de não matar
a economia de uma vez só é converter os passivos das empresas e das famílias na
moeda nova. O que significa desvalorizá-los. Assim, o passivo não se agrava,
mas perde-se nos depósitos, que passam para uma moeda mais fraca. Se for ao
estrangeiro e converter a moeda, recebe menos. Se comprar cá dentro, também
perde dinheiro, porque os preços dos produtos importados sobem. A inflação
tende a descontrolar-se. Todos perdem. Já uma vez desafiei o prof. João
Ferreira do Amaral a ser claro. Como é que resolvia o problema dos depósitos e
das dívidas aos bancos?
VII
- Não teve resposta?
Até ver não. Não acho possível que os depósitos fiquem em
euros. Porque se continuarem em euros, os créditos também têm que estra em
euros e as empresas não aguentam. Porque o valor do que vendo em escudos vai
baixar, quando comparado com a dívida em euros. O crédito fica prejudicado.
Será muito difícil manter as dívidas internas, das famílias ou das empresas, em
euros.
- Continua-
Boa noite.
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