(936) EURO VS ESCUDO (VIII-XV).
VIII
- Com austeridade longa ou com a saída do euro, ficaremos
sempre mal?
A austeridade põe-nos mais pobres e a saída do euro também.
Não há muita diferença. O grande argumento a favor da saída é que ficávamos
mais baratos perante o exterior. Talvez nos pusesse em condições de exportarmos
mais. Foi o que se passou em 1978-79 (em quatro Governos Constitucionais: Mário
Soares/Nobre da Costa/Mota Pinto /Lurdes Pintassilgo) em 1983-84 (IX/Governo
Mário Soares), alturas em que o País empobreceu e os salários baixaram. Não
baixou o escudo, baixou o que o escudo comprava. Sair do euro é ficar bastante
mais pobre do que hoje.
IX
- É caminhar para o modelo chinês?
Já nem é o modelo chinês. É fazer de Portugal, por comparação
com os europeus, o que o Vietname, em comparação com a China. O Vietname é um
pequeno País à beira de um colosso, cujo principal argumento é ser mais barato.
Sair do euro é regressar à mão de obra, mais barata do que já é. Esta é uma
grande de estratégia politica.
X
-Qual é a sua posição?
Tentar sobreviver dentro do euro. É mau para o País sair e é
contra os meus próprios interesses. Não é preciso ter muito dinheiro depositado
num banco para perceber que a saída do euro reduz o depósito em 30% a 40% de
uma vez. Tira aos depósitos e aos activos em geral (casas, terras) 30 %de uma
vez. E reduz para metade os salários. É uma má solução. Respeito quem esteja
disposto a pagar este preço, na esperança de que o PIB e o emprego cresçam
mais. Mas sair do euro é fazer de nós o Vietnam da Europa. Ficar no euro é
acabar no deserto.
XI
- Estamos entalados entre duas desgraças?
Sim. E não é de agora. O que se tem passado nestes últimos
anos? O PIB é menor, há menos pessoas a trabalhar, muitas emigraram e o País
desertificou-se. Se a coisa correr mal, Portugal continuará a esvaziar-se e a
empobrecer, lentamente. Se sair do euro, empobrece ainda mais e de uma vez só.
XII
- Pode haver dois euros? Um dominado pela Alemanha, com os
países do Norte; e outro pela França, com os do Sul?
É uma possibilidade. Há quem defenda que devia ser a
Alemanha a sair do euro. Também posso dizer que os euros pagos a um português
não lhe permitem comprar o mesmo que os que são pagos a um alemão. Mas,
entretanto, a moeda é a mesma. Haver dois euros diferentes é o fim da Europa
tal como a conhecemos. Só com moeda única há mercado único.
XIII
- É a crise do euro, mas o euro valoriza-se. Como se
explica?
Significa que os investidores podem não querer emprestar
euros à Grécia, Portugal ou Irlanda, mas não se importam de ter euros nas
contas bancárias, nem de os emprestar a outros países. Não acreditam em alguns
devedores. Há pequenas empresas, muito sofisticadas do ponto de vista
tecnológico, que são adquiridas por estrangeiros. Esses investidores não
tiveram medo das empresas, nem de Portugal nem do euro. Não posso dizer que o
País é recusado. Em pequena escala, é alvo de investimento.
XIV
- O que falha então?
Uma moeda comum exige políticas comuns. A criação do euro
estabeleceu condições. A Alemanha diz é que é preciso regressar a elas. Só que
há estragos muito grandes feitos pelo caminho.
XV
-São irrecuperáveis?
São precisas mais duas décadas. Portugal vai ter de
reestruturar a dívida. Terá de pedir desculpa aos credores e dizer que não
consegue pagar nos prazos combinados. E pedir um prazo mais longo e uma taxa de
juro mais baixa. Esse dia chegará.
- Continua-
Boa noite.
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