( 923 ) TROPA- FANDANGA.
Com quatro anos de serviço militar obrigatório (dois em
Portugal e dois na Guiné) nunca descortinei gente interessante que tivesse a
tropa como profissão. Assumo alguma má vontade e impertinencia da minha parte.
Naqueles anos odiei aquele exército a tal ponto que na saída
para a metrópole atirei a medalha de campanha para a bolanha e rasguei o diploma
(Fui pouco racional: confesso!). Hoje considero aquele acto leviano e estúpido, provavelmente
reflexo da formação marxista de rapazola, um estupor ideológico que me
acompanhou naqueles quatro anos, contra a guerra. Também confesso que nunca fui
mal tratado ou desrespeitado no exército português, mesmo quando o sargento- ajudante
[um PIDE] me molestou e ameaçou-me ,por ser “antipatriota” ,e que viria debaixo
de prisão , eu sem desarmar nas minhas ameaças : “ lá acertamos contas
filho-da-puta” depois vou a Viseu e corto-te os tomates. Passados dezenas de anos rio desta garotice e sentiria muita vergonha contar isto (como se se tivesse tratado de acto heróico ) de um fanfarrão nos seus vinte e tal anos que 1974 e 75 trouxe-o à terra e deu-lhe juízo.
Hoje, vejo tudo de maneira diferente e fito muitos trapalhões a descrever balelas de “antifascistas “ e não há um só destes
lunáticos que não tivesse sido preso e torturado na PIDE e todos sofreram as agruras do
“fascismo” , a subestimar a tortura e os verdadeiros torturados. Os que lutaram contra a Ditadura foram pouquíssimos depois ,em democracia ,passam a muitos no milagre da multiplicação .
Este serôdio sentimento jaleco, nada o meu tipo, deve-o a
Helena Matos,
“Os militares também estão em dívida para com o País.
E não lhe devem pouco. Não, não falo das reformas, das comissões e de questões
materiais. Falo de honra, coisa sem preço e que os militares não podem
dispensar. Durante estes quarenta anos os civis têm sido o conveniente bode expiatório da forma como as Forças Armadas Portuguesas (ou parte delas)conseguiram impor que se saísse de África e de Timor: abandonando as populações, prendendo líderes de partidos não conformes aos movimentos que os militares portugueses tinham definido como interlocutores, entregando cidadãos portugueses a alguns desses movimentos, transferindo informações militares classificadas para os grupos que pretendiam favorecer (nesta última matéria
vale sempre a pena ouvir e ler os depoimentos provenientes de Cuba)…”
e a este comentário desprezado numa montoeira de palavras:
“Lembraste,
pai? Tinha 5 anos no 25/4. O meu amigo Alfredo roubou-me os 10esc q tinha para
o gelado. Tu dizias à mãe q se calhar tínhamos de vir para o puto mas não
tínhamos casa, nem emprego. Depois meteste-nos no avião para aqui e voltaste a
Luanda.
Contaste q mataram um furriel na Vila Alice quando patrulhavam e o
Gen.Silva Cardoso mandou os "páras" cercar o MPLA dizendo q, ou
apresentavam o criminoso - sabia q tinham sido eles - ou responderiam pelo
acto.
Ficaste até set.75. Nós, aqui vivíamos numa garagem. Depois o teu pai -
meu avô - disse-te que vinhas roubar os empregos. Tu respondeste que não
querias só empregos. Querias muito mais. O teu amigo Arnaldo, q tinha escapado
aos esbirros do Almirante Vermelho ajudou-nos a normalizar a n/vida. E daquela
vez q ias indo às ventas daquele barbudo que acusou os refugiados de
"colonialistas" quando o autocarro parou frente ao Nicola? Tu
perguntaste se ele era capaz de dizer aquilo cara-a-cara a eles, mas ele encolheu-se.
Lembras-te das agruras porq passámos para estabilizar a vida? Q isso só foi
possível com a tua coragem e amor à família q tinhas criado? Não te pergunto se
vais comemorar o 25/4 porq sei q não és masoquista. Mas devendo-te a vida 2
vezes q mais te posso dizer senão q continuas a fazer-me muita falta? Preciso
da tua coragem e determinação. Salvaste a família toda. Éramos 4 e agora somos
8. Cumpriste o teu dever: amaste a tua Pátria, fizeste filhos, plantaste
árvores, escreveste o livro da vida. Obrigado.”.
Vou ficar por aqui!
Boa tarde.
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