23 abril 2014

( 923 ) TROPA- FANDANGA.

Com quatro anos de serviço militar obrigatório (dois em Portugal e dois na Guiné) nunca descortinei gente interessante que tivesse a tropa como profissão. Assumo alguma má vontade e impertinencia da minha parte.
Naqueles anos odiei aquele exército a tal ponto que na saída para a metrópole atirei a medalha de campanha para a bolanha e rasguei o diploma (Fui pouco racional: confesso!). Hoje considero aquele acto leviano e estúpido, provavelmente reflexo da formação marxista de rapazola, um estupor ideológico que me acompanhou naqueles quatro anos, contra a guerra. Também confesso que nunca fui mal tratado ou desrespeitado no exército português, mesmo quando o sargento- ajudante [um PIDE] me molestou e ameaçou-me ,por ser “antipatriota” ,e que viria debaixo de prisão , eu sem desarmar nas minhas ameaças : “ lá acertamos contas filho-da-puta” depois vou a Viseu e corto-te os tomates. Passados dezenas de anos rio desta garotice e  sentiria muita vergonha contar isto (como se  se tivesse tratado de acto heróico ) de um fanfarrão nos seus vinte e tal anos  que 1974 e 75 trouxe-o à terra e deu-lhe juízo.
Hoje, vejo tudo de maneira diferente e fito muitos  trapalhões  a descrever balelas  de “antifascistas “ e não há um só destes lunáticos que não tivesse sido preso e torturado na PIDE  e todos  sofreram as agruras do “fascismo” , a subestimar a tortura e os verdadeiros torturados. Os que lutaram contra a Ditadura foram pouquíssimos  depois ,em democracia ,passam a muitos  no milagre da multiplicação  .

Este serôdio sentimento jaleco, nada o meu tipo, deve-o a Helena Matos,

e a este comentário desprezado numa montoeira de palavras:


 “Lembraste, pai? Tinha 5 anos no 25/4. O meu amigo Alfredo roubou-me os 10esc q tinha para o gelado. Tu dizias à mãe q se calhar tínhamos de vir para o puto mas não tínhamos casa, nem emprego. Depois meteste-nos no avião para aqui e voltaste a Luanda.
Contaste q mataram um furriel na Vila Alice quando patrulhavam e o Gen.Silva Cardoso mandou os "páras" cercar o MPLA dizendo q, ou apresentavam o criminoso - sabia q tinham sido eles - ou responderiam pelo acto.
Ficaste até set.75. Nós, aqui vivíamos numa garagem. Depois o teu pai - meu avô - disse-te que vinhas roubar os empregos. Tu respondeste que não querias só empregos. Querias muito mais. O teu amigo Arnaldo, q tinha escapado aos esbirros do Almirante Vermelho ajudou-nos a normalizar a n/vida. E daquela vez q ias indo às ventas daquele barbudo que acusou os refugiados de "colonialistas" quando o autocarro parou frente ao Nicola? Tu perguntaste se ele era capaz de dizer aquilo cara-a-cara a eles, mas ele encolheu-se. Lembras-te das agruras porq passámos para estabilizar a vida? Q isso só foi possível com a tua coragem e amor à família q tinhas criado? Não te pergunto se vais comemorar o 25/4 porq sei q não és masoquista. Mas devendo-te a vida 2 vezes q mais te posso dizer senão q continuas a fazer-me muita falta? Preciso da tua coragem e determinação. Salvaste a família toda. Éramos 4 e agora somos 8. Cumpriste o teu dever: amaste a tua Pátria, fizeste filhos, plantaste árvores, escreveste o livro da vida. Obrigado.”.













Vou ficar por aqui!

Boa tarde.