07 maio 2009

(III) O LIVRO DE ESTILO. O SEU GUIA DE LEITURA.

CULTO DA PERSONALIDADE.

Ao edil, camarada do comité central:

“No entanto, apesar dessa realidade política, o PCP/CDU continua a ter força, energia e inteligência para manter uma forte a “autoridade moral”, hoje, muito consubstanciada pela figura, do presidente da Câmara Municipal do Barreiro.”16/7/2008

“Parece, que estão mesmo apostados em “desfazer”, em lume brando, o capital político do PCP/CDU chamado presidente da câmara.”4/9/2008


“O presidente da câmara, é um “reduto de esperança”, porque tem trabalho realizado, porque “abre” o PCP/CDU para além do seu tradicional “enconchamento”. É um homem de diálogo e honesto.”4/9/2008

O “peso político” do presidente da câmara tem no Barreiro, transcendendo o PCP e a sua franja eleitoral.”4/9/2008

“Senti orgulho de ter um presidente como presidente da Câmara da minha terra. Até pareceu-me que ele ia chorar. E que chorasse, que mal tinha, os homens também choram”.8/4/2008

Statu quo sim, mas nem tanto:

para esta imprensa um pouco de marcha atrás seria por demais bem-vinda.

BAIRRISMO.


Mas se Portugal se vai aos poucos perdendo, o Barreiro ainda vai conservando algo da sua “pureza primordial”.

Em grande medida, graças à sua imprensa.

O presidente:

“O Barreiro deve estar agradecido – a este jornal da terra - pelo contributo que dá ao seu desenvolvimento”23/9/2008

A comunicação social “é um elemento indispensável à democracia e ao desenvolvimento e crescimento do Barreiro”,23/9/2008

Hoje no Público dizia o investigador francês, (amanhã estará na Católica com uma conferencia: onde se ganham as guerras: no terreno ou no ecrã?) Daniel Dayan:


os jornalistas deviam ser melhores do que a maior parte das pessoas.

“Devem narrar de forma a permitir o debate”.

Em vez disso,


“ são semi-intelectuais, semieducados, impreparados e partidários “.

Mas nem só dos bons velhos valores vive esta terra, não — a grandeza moral e cultural (a moral e a cultura comunista) abunda neste rincão pátrio como em nenhum outro sítio!

A terra é «bendita», «ubérrima» e «paradisíaca», com os seus moinhos (de vento ou de maré degradados) o município é «dinâmico» (apesar de se desertificar), os que nele habitam são «nobres», a cidade e as suas freguesias são «antiquíssimas» (mesmo que só tenham uns séculos) e acima de tudo «belas».

Se não acreditam, basta ler o inimitável “O Pravda do Barreiro”:

está lá tudo, preto no branco.

E, como sabemos, se está escrito é verdade.

TRAGICOMÉDIA.

Posto isto, perante esta imprensa o leitor crítico vê-se o mais das vezes de sentimentos divididos: rir ou chorar?

Rir — da pobreza ideológica e de espírito, do bairrismo bacoco, da paralisação no tempo, da mediocridade crónica, do ridículo a que as coisas chegam (ou de onde, desgraçadamente, nunca saíram), do amadorismo infantilizante da maioria dos textos, do fait divers pequenino e estéril — ou chorar — exactamente pelas mesmas razões, mais o facto de que é esta a memória que vai ficar para a posteridade, armazenada nos nossos arquivos?

Com «Faróis de Alexandria» como estes, quem se admira que o Barreiro se encontre encalhado?





Boa noite.

Bibliografia
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