05 abril 2009

COM AMIGOS DESTES O BARREIRO VELHO NÃO PRECISA DE INIMIGOS.

I


No Sábado atravessei o Centro histórico onde nasci, conhecido por Barreiro Velho, da Avenida da praia aos Penicheiros.

Ao chegar ao largo do casal encarei com uma agitação dita “cultural”, imposta ao decrépito Barreiro Velho oficializada com o apoio da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal, a lembrar um país subdesenvolvido ou qualquer outra coisa em miniatura de roque santeiro nos subúrbios de Luanda.


Parece ser espontâneo o comércio da velharia da velharia de coisas inúteis, mas não é, e dá-nos pena constatar, aqui, que a ociosidade é mesmo a mãe de todos os vícios.

A organização deste ajuntamento, a que chamam feira da ladra, está intimamente ligada ao Bloco; até um jornal do Barreiro lhes deu há uns dias um galardão pelo mérito de capacidade de organização do

“ vender e arrepender-se é melhor do que não vender e se arrepender “.

Pobre Barreiro!


II

Na passada olho para o chão. Sobre um plástico sem jeito vejo Homero, o da Odisseia.

Não ficas aqui!

O Ulisses sofreu demais para acabar neste lúgubre local.

Quanto é ?

- ero e meo .

Ao debruçar-me vejo Montaigne e os ensaios.

Meu Deus!

Também não ficas aqui.

Por descargo de consciência varri com o olhar o resto. Vocês podem ficar aqui que não vos fica mal.

III

Aos ensaios, alguém se tinha prevenido a limpar o dito com umas quatro folhas do meio.

Nas notas finais , as últimas cinco folhas também se foram.

Não faz mal.

IV

Montaigne ( 1533/1592) nos seus ensaios ensina ( 1580):

Eu creio que as nossas almas se encontram suficientemente desenvolvidas aos vinte anos;
nessa idade são já o que devem vir a ser posteriormente e prometem quantos frutos possam dar no decurso da vida;
nunca um espírito, que até então não tenha dado penhor evidente da sua força, virá depois a dar prova disso.




Boa noite.