09 maio 2008

APRENDER COM GREGÓRIO DE MATOS

Querem-me aqui todos mal

Querem-me aqui todos mal,
mas eu quero mal a todos,
eles, e eu por nossos modos
nos pagamos tal por qual:
e querendo eu mal a quantos
me têm ódio tão veemente
o meu ódio é mais valente,
pois sou só, eles são tantos.

Algum amigo, que tenho

Algum amigo, que tenho,
(se é, que tenho algum amigo)
me aconselha, que, o que digo,
o cale com todo o empenho:
este me diz, diz-me estoutro,
que me não fie daquele,
que me não fie aqueloutro.

A Cidade me provoca

A Cidade me provoca
com virtudes tão comuas:
há tantas cruzes nas ruas,
quantas eu faço na boca:
os diabos a seu centro
foi cada um por seu cabo,
nas ruas não há um diabo,
há-os das portas a dentro

in

Antologia poética
Gregório de Matos e Guerra
S. Salvador da Baía1633/Recife1695

Estudou em Portugal em 1650.
Juiz de fora em Alcácer do Sal em 1663.
Desembargador da relação Eclesiástica da Baía em 1679.
Foi desterrado para Angola em 1684, (talvez) por ter dirigido uma sátira contra o filho do governador da Baía.


(inclino-me mais para um ajusto de contas e eliminação d' “um contra todos”... pois sou só, eles são tantos.)

Regressou ao Brasil em 1695.
Tinha a alcunha de “o Boca do Inferno”…pudera .

pós-escrito

a propósito do desterro :ser condenado por delito de opinião, perseguido pelas suas ideias e confrontado com a hostilidade dos seus contemporâneos é um dado adquirido ontem e hoje; dos outros, daqueles que só vivem para hostilizar não reza, nem rezará, a história, porque destes nada fica.
E ficaria o quê?


( Tal como aquele que queria meter no Campo Pequeno quem não pensasse como ele , hoje, na minha terra ,se fosse possível para muitos dos actuais inquisidores amadores de palavras , construiriam, nos terrenos da Quimiparque, um gulag para encerrar todos aqueles que não pensam como eles entendem que devemos pensar :

“há demasiados Lenines para esta terra” .
É pena !)


Boa noite.