(880) OS LUGARES QUE OCUPA E PREOCUPAM O FILHO-DA-PUTA.
“O lema do filho-da-puta é amar a humanidade em geral e
odiar toda a gente em particular.
O filho-da-puta gosta sempre de rebaixar pela
entoação que dá às palavras, pelo modo de insinuar, de olhar, pelo modo de pôr
os pés no chão, de andar, de rir, de escarrar, de arrotar.
O filho-da-puta não
gosta de viver, por isso gasta todos os seus meios para avivar o passado e o reviver.
Deste modo se entende que seja sempre imensa a saudade que ele, filho-da-puta,
tem do passado, imenso o seu desejo ou ambição de regressar (se possível) ao
estado embrionário, esse estado em que ia para todos os lugares sem chegar a sair
do mesmo lugar. Porque o nascimento, para o filho-da-puta, forço-o a “factores
de correcção extraordinários”.
O filho-da-puta não quer sair do lugar que ocupa (a
não ser para ocupar um lugar relativamente mais-valioso), nem quer que os
outros saiam do lugar que ocupam (a não ser para ocupar um lugar relativamente menos-valioso),
porque se os outros saem do lugar que ocupam, para ocupar um lugar
relativamente mais – valioso, ele, filho-da-puta perde o lugar relativamente
mais – valioso que ocupa, e essa é uma das coisa que mais o preocupam, já que é
conveniente que nenhum filho-da-puta saia do lugar mais-valioso que ocupa, a
fim de todos os filhos -da -puta ocuparem todos os lugares, todos os lugares
mais-valiosos que os filhos-da-puta ocupam e que ocupam os filhos-da-puta.
Porque todos os lugares estão cheios de filhos-da-puta, filhos-da-puta que só
desocupam os lugares que ocupam para outros filhos-da-puta os ocuparem, filhos-
da-puta pais que passam os lugares que ocupam aos filhos-da-puta filhos, filhos
da-puta avós, filhos-da-puta tios que passam os lugares que ocupam aos
filhos-da-puta netos, aos filhos-da-puta sobrinhos, e assim incessantemente, e
isto desde tempos imemoriais (o que
é uma maneira de dizer, dado que deles não há memória).
No que toca à importância e necessidade dos seus lugares, todos os
filhos-da-puta estão de acordo entre si em salientar ser seu dever ocupá-los e,
como além disso estão na maioria, não há possibilidade de discutir isto mesmo
com eles, pois as regras da discussão são eles próprios que as estabelecem, e
as excepções também.
Porque os filhos-da-puta (embora a estranhos não se dêem
muito facilmente a conhecer) conhecem-se bem uns aos outros, pelos lugares que
ocupam e só podem ser ocupados por eles.
Convém no entanto não esquecer que a maioria dos filhos-da-puta ocupa vários lugares ( ao seu nível, se pudesse, cada um os ocupava todos ) , porque os lugares para os filhos-da-puta são ainda mais que os próprios filhos-da-puta e, como é sabido ( ou devia ser), os lugares para os filhos-da-puta só podem ser ocupados por filhos-da-puta, e basta.
Por isso sempre que o filho-da-puta
especializado em fazer faz um acordo público, é difícil saber se é um acordo
público que traz préstimos particulares ou se é um acordo particular feito de
prestações pública, e o mesmo acontece sempre que ele, o filho-da-puta faz
todas as outras coisas que o filho-da-puta faz.
Tenho dito."
Boa tarde.
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