28 setembro 2013

(880) OS LUGARES QUE OCUPA E PREOCUPAM O FILHO-DA-PUTA.


“O lema do filho-da-puta é amar a humanidade em geral e odiar toda a gente em particular. 

O filho-da-puta gosta sempre de rebaixar pela entoação que dá às palavras, pelo modo de insinuar, de olhar, pelo modo de pôr os pés no chão, de andar, de rir, de escarrar, de arrotar. 

O filho-da-puta não gosta de viver, por isso gasta todos os seus meios para avivar o passado e o reviver.

Deste modo se entende que seja sempre imensa a saudade que ele, filho-da-puta, tem do passado, imenso o seu desejo ou ambição de regressar (se possível) ao estado embrionário, esse estado em que ia para todos os lugares sem chegar a sair do mesmo lugar. Porque o nascimento, para o filho-da-puta, forço-o a “factores de correcção extraordinários”. 

O filho-da-puta não quer sair do lugar que ocupa (a não ser para ocupar um lugar relativamente mais-valioso), nem quer que os outros saiam do lugar que ocupam (a não ser para ocupar um lugar relativamente menos-valioso), porque se os outros saem do lugar que ocupam, para ocupar um lugar relativamente mais – valioso, ele, filho-da-puta perde o lugar relativamente mais – valioso que ocupa, e essa é uma das coisa que mais o preocupam, já que é conveniente que nenhum filho-da-puta saia do lugar mais-valioso que ocupa, a fim de todos os filhos -da -puta ocuparem todos os lugares, todos os lugares mais-valiosos que os filhos-da-puta ocupam e que ocupam os filhos-da-puta. 

Porque todos os lugares estão cheios de filhos-da-puta, filhos-da-puta que só desocupam os lugares que ocupam para outros filhos-da-puta os ocuparem, filhos- da-puta pais que passam os lugares que ocupam aos filhos-da-puta filhos, filhos da-puta avós, filhos-da-puta tios que passam os lugares que ocupam aos filhos-da-puta netos, aos filhos-da-puta sobrinhos, e assim incessantemente, e isto desde tempos imemoriais (o que é uma maneira de dizer, dado que deles não há memória).

No que toca à importância e necessidade dos seus lugares, todos os filhos-da-puta estão de acordo entre si em salientar ser seu dever ocupá-los e, como além disso estão na maioria, não há possibilidade de discutir isto mesmo com eles, pois as regras da discussão são eles próprios que as estabelecem, e as excepções também. 

Porque os filhos-da-puta (embora a estranhos não se dêem muito facilmente a conhecer) conhecem-se bem uns aos outros, pelos lugares que ocupam e só podem ser ocupados por eles.

Convém no entanto não esquecer que a maioria dos filhos-da-puta ocupa vários lugares ( ao seu nível, se pudesse, cada um os ocupava todos ) , porque os lugares para os filhos-da-puta  são ainda mais que os próprios filhos-da-puta e, como é sabido ( ou devia ser), os lugares para os filhos-da-puta só podem ser ocupados por filhos-da-puta, e basta.

Por isso sempre que o filho-da-puta especializado em fazer faz um acordo público, é difícil saber se é um acordo público que traz préstimos particulares ou se é um acordo particular feito de prestações pública, e o mesmo acontece sempre que ele, o filho-da-puta faz todas as outras coisas que o filho-da-puta faz. 

















Tenho dito."

Boa tarde.