19 maio 2009

A ESPUMA DO TEMPO.

Li de um fôlego



A ESPUMA DO TEMPO MEMÓRIAS DO TEMPO DE VÉSPERAS (Almedina, Janeiro 2009) e as suas quatrocentas e muitas páginas, do Professor Adriano Moreira, quase na mesma semana em que saiu, graças à Bertrand do Fórum Barreiro.

É um hábito trazer para aqui pensadores para aprendermos com eles. Eu aprendo.
Como é óbvio o livro do professor Adriano Moreira viria para aqui para aprendermos com ele.
Hesitei.

Por falta de pachorra fiz o pior que se pode fazer: acomodei-me na auto-censura.
Porquê auto-censura?
Para evitar polémicas estéreis, que acabam quase sempre com espuma nos cantos da boca, nesta terra do branco e preto. Tudo é branco ou é preto. Não há cores intermédias.
Em terras cheias de razão, de razões e de verdades, é difícil fazer passar uma mensagem que fuja do entendimento de mentes pouco desenvolvidas.


Se alguém diz que fulano, do regime Salazarista, era um homem sério, conclui-se, quem faz esta afirmação quer branquear o Salazarismo. É um fascista encoberto.
Por outro lado, se alguém afirma que fulano membro destacado do partido comunista é um trafulha e oportunista imediatamente passa a ser um anticomunista primário e um grande fascista inimigo do partido dos trabalhadores. Este argumento também cola em tudo que mexa na política ou em partidos ditos democráticos. Cola menos mas cola.
No entanto a hipocrisia e a má-fé de alguns barreirenses aceitou uns e repudiou outros que vieram do antigo regime.
Como curiosidade comportamental, explicável, houve um Barreiro que nunca repudiou em 75 os bufos e os legionários do antigo regime que passaram a andar com cravos, mais a foice e o martelo na lapela, ou a tomar a sua bica na Rua Vasco da Gama, ou na provocação aos Barreirenses que tinham abandonado África, com uma mão atrás e outra à frente, com o estigma de retornados exploradores de pretos.


Retomando Adriano Moreira:
O autor é um senhor, com autoridade intelectual, na verdadeira acepção do termo.
Um senhor que fez história; trabalhou com Salazar, contrariou Salazar, não era Salazarista, combateu os Salazaristas, desdenhava militantemente dos hipócritas e oportunistas salazaristas e caetanistas que rodeavam Salazar ou Marcelo Caetano; perseguido pelas tribos salazaristas só acalmou em 1974 para ser de novo perseguido na democracia e tranquilizado em 1980 com a intervenção de Eanes.
Um deles, o pequeno ministro, ainda actua. E com muito prestígio. Foi Ministro da Educação de Caetano. Dono de Gorilas e dos vigilantes em 73, para quem se lembra.

Trafulha no bom sentido do termo e desleal segundo relatam estas memórias. Um exímio comunicador; o nosso conhecido historiador da TV José Hermano Saraiva.
Adriano Moreira nunca brincou, antes nem depois, ao politicamente correcto. Conta nas suas memórias, por duas vezes se cruzou com Saraiva, já no actual regime, e por duas vezes lhe voltou a cara recusando a mão estendida.


Ontem Adriano Moreira esteve na RTP num programa das segundas-feiras. Não vi, mas disseram-me que a Fátima Campos Ferreira trouxe este livro de memórias ao programa que contou com a presença do autor.


Oportunamente voltarei com “a espuma do tempo memórias do tempo de vésperas “ como o melhor livro de memórias desde a queda do “regime constitucional de 1933”, com alguns dados históricos e trazer mais conteúdo do que este post que se dispersou e se perdeu na minha espuma do tempo.

Mas o melhor seria que adquirisse a obra para aprender.
Vai constatar que muitas das as histórias que sabe, ou lhe contaram e descreveram, estão do avesso.







Boa noite.