A KIMBERLEY DISSE
É por isso que quando o Cabós Gonçalves afirma que
“Não há hipótese do Mercado de Rua Marquês de Pombal ser rejeitado”,
ninguém duvida das suas palavras e as velhas até se benzem com a determinação do menino.
Mas numa terra onde os “opinion-makers” fazem-se entre a esquina do mercado municipal e a pastelaria Tico-Tico, outra coisa não seria de esperar.
Por falta de ideias e genuína preguiça, tão particular nos portugueses, as pessoas preferem na maioria das vezes seguir uma ideia já feita
(a proposta para o novo mercado até tem um dossier de 25 páginas!) do que contra-argumentar com outras ideias:
para sugerir um outro local para a feira da Verderena e também para a requalificação do Barreiro velho.
A ideia em si, parece-nos bem intencionada mas, como todas as boas intenções, é ingénua e desfasada da realidade.
É uma ideia idílica de quem gosta de passear por mercados a cheirar a livros velhos e a ferro forjado, mas raramente põe os pés nas feiras portuguesas, onde se vende à mistura: repolhos, DVDs da candonga, galinhas, calças Levi’s e ténis da Nike, iguaizinhos aos da loja!
É por isso que utilizar como referências os mercado de Portobello Road, em Londres, ou o Marché aux puces, em Paris, é no mínimo paradoxal, quando se fala de um futuro para o mercado da Verderena, uma vez que a sua natureza é completamente distinta.
Também o feirante português não é nem alfarrabista nem filatelista, e é por isso que em vez de proliferarem esplanadas chiques junto dos nossos mercados, se vendem minis e torresmos em roulottes sem condições de higiene.
Esperar que esta realidade mude porque se muda a feira de local é utopia.
Se o argumento principal for a requalificação do espaço, parece-me que têm de se esforçar mais, porque a construção de módulos fixos de venda vai descaracterizar por completo a rua e os edifícios, roubando a personalidade histórica do Barreiro velho, de que tanto se fala.
Uma requalificação equilibrada da zona do Barreiro velho, consideraria a reconstrução total dos edifícios e sequente repovoamento, através do aluguer de fogos habitacionais, por exemplo aos jovens, que com a Universidade espera-se que afluam de várias zonas do país.
É claro que uma reconstrução total da área, contemplando espaços verdes e zonas comerciais, obriga a um entendimento entre o Município e os Proprietários das habitações (que infelizmente sonham em ganhar dinheiro com as casas a cair de podre) e, principalmente, injecções de capital de que a Câmara não dispõe.
A ideia do mercado na rua Marquês de Pombal parece um exercício último e desesperado de quem já não vislumbra hipóteses de sobrevivência para o Barreiro velho e joga uma cartada “que não lembraria a ninguém”, como se da última oportunidade se tratasse para a renascimento da zona.
É por causa disso que é triste, e só me apetece perguntar:
então não se lembraram de uma coisa melhor?
Se calhar estou errada e não sou uma pessoa de visão, mas parece-me que o Cabós, ou quer dar o seu nome à feira ou quer dar o seu nome a uma rua, do Barreiro velho claro, imortalizando assim a sua “cidadania”.
Kimberley
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