APRENDER COM ALBINO FORJAZ DE SAMPAIO
(continuação)
( extractos da quarta , de oito cartas)
Há uma tela de Rochegrosse intitulada Angoisse humaine.
É um quadro que representa a vida.
No primeiro plano muitas criaturas erguem o braço para chegar mais alto.
Homens de casaca tão correctos como se fôssem para um baile.
Há mulheres decotadas vestidas em rigor.
Homens condecorados e homens banais, velhos e moços, misturam-se e empurram-se, disputando-se numa agonia pavorosa, num combate sem nome.
Aquele monte é a Ambição de subir, de que fala Vieira.
Atrás, pela riba acima, numa escalada vertiginosa, aparece uma maré cheia de cabeças ululantes, estranguladas pela ambição, correndo,empurrando-se, pisando os que ficam, agarrando-se de pés e mãos, como se após viessem também correndo numa perseguição fantástica, as ondas dum novo dilúvio.
Todos daquela multidão ávida querem ser os primeiros.
O lugar é disputadao a sôco, a murro, a dente.
O caminho que na vida leva ao triunfo é uma scena medonha que mais parece a fuga duma derrota.
A tela é violenta e verdadeira.
A vida é aquilo, assim enérgica, sinistra, brutal.
Não há trégua, não há descanso.
Cada um vigia sempre o seu vizinho, espreita se êle cai, e tripudia, espreita se êle sobe, e inveja-o.
Tôda aquela populaça, tôdas aquelas criaturas cuidam só em subir.
Por cada um que tomba avançam mil.
Trava-se um combate em que o mais cruel, o mais forte, o mais canalha, é que triunfa.
Nada de piedade nem de compaixão.
Se não esmagares serás esmagado.
Não há tempo de olhar, nem de pensar sequer.
Avançar seja como fôr, custe o que custar.
Amanhã é tarde, depois é impossivel.
Tudo na vida é mudável, tudo na vida é transitório.
Tudo passa , tudo esquece.
Ai dos que param, ai dos vencidos.
O crespúsculo cai suavemente.
Albino Forjaz de Sampaio
Da Academia das Sciências de Lisboa
in
PALAVRAS CÍNICAS
1905
(continua)
( extractos da quarta , de oito cartas)
Há uma tela de Rochegrosse intitulada Angoisse humaine.
É um quadro que representa a vida.
No primeiro plano muitas criaturas erguem o braço para chegar mais alto.
Homens de casaca tão correctos como se fôssem para um baile.
Há mulheres decotadas vestidas em rigor.
Homens condecorados e homens banais, velhos e moços, misturam-se e empurram-se, disputando-se numa agonia pavorosa, num combate sem nome.
Aquele monte é a Ambição de subir, de que fala Vieira.
Atrás, pela riba acima, numa escalada vertiginosa, aparece uma maré cheia de cabeças ululantes, estranguladas pela ambição, correndo,empurrando-se, pisando os que ficam, agarrando-se de pés e mãos, como se após viessem também correndo numa perseguição fantástica, as ondas dum novo dilúvio.
Todos daquela multidão ávida querem ser os primeiros.
O lugar é disputadao a sôco, a murro, a dente.
O caminho que na vida leva ao triunfo é uma scena medonha que mais parece a fuga duma derrota.
A tela é violenta e verdadeira.
A vida é aquilo, assim enérgica, sinistra, brutal.
Não há trégua, não há descanso.
Cada um vigia sempre o seu vizinho, espreita se êle cai, e tripudia, espreita se êle sobe, e inveja-o.
Tôda aquela populaça, tôdas aquelas criaturas cuidam só em subir.
Por cada um que tomba avançam mil.
Trava-se um combate em que o mais cruel, o mais forte, o mais canalha, é que triunfa.
Nada de piedade nem de compaixão.
Se não esmagares serás esmagado.
Não há tempo de olhar, nem de pensar sequer.
Avançar seja como fôr, custe o que custar.
Amanhã é tarde, depois é impossivel.
Tudo na vida é mudável, tudo na vida é transitório.
Tudo passa , tudo esquece.
Ai dos que param, ai dos vencidos.
O crespúsculo cai suavemente.
Albino Forjaz de Sampaio
Da Academia das Sciências de Lisboa
in
PALAVRAS CÍNICAS
1905
(continua)
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