14 abril 2006

APRENDER COM ALBINO FORJAZ DE SAMPAIO

(continuação)

( extractos da terceira , de oito cartas)

Lembras-te de quando eu te dizia que a Vida era má, tu responderes "que ainda havia o Amor?”

Mas como hão-de elas amar-me se eu lhes não posso dar oiro?

Que tenho eu para lhes dar?
O coração?


E para que serve o coração?

Acaso isso já serviu a alguém ?

Não encontrei nunca uma mulher que não roçasse a espinha pela minha bôlsa, como os gatos quando fazem ronrom aos pés do dono.

Cada criatura tem latente em si uma Sodoma.

Todos nós somos iguais.
Filhos da Luxúria, escravos do Gôzo, servos do Interêsse.


Iguais no nascimento e iguais na morte.

Um fidalgo nasceu tão desastradamente como um moço de restaurant.

Ninguém diferenciará na morte um cardial do seu fâmúlo, um cabeleireiro dum palhaço, uma florista duma arquiduquesa.

Não somos acaso todos irmãos, ó meu irmão canalha ?

Tu sabes quantos adultérios praticou a tua mãe para com teu pai? Nenhum.

O que nunca, nunca me poderás dizer è quantos ela pensaria em praticar.

No Amor, como na Vida, de quem é o triunfo?

Dos fortes, dos que mentem, dos que batem, dos que falseiam.

Albino Forjaz de Sampaio
Da Academia das Sciências de Lisboa
in
PALAVRAS CÍNICAS
1905

(continua)