23 abril 2007

SANTINHO DE PAU CARUNCHOSO

“Acabei de ligar agora mesmo para o director clínico do hospital.”






Vá lá o nosso Presidente da República ao fim de algum tempo preocupou-se com a saúde do maior, entre os maiores, escritores de língua portuguesa do século XX.

Distraído, crédulo, ao pequeno-almoço, no meio de uma colher para cá e uma colher para lá, oiço Cavaco

falar nas alegrias que ele lhe deu (!)

como assim ?

só se foi na guerra colonial
estiveram lá os dois no mesmo período
depois oiço qualquer coisa de pantera .

pantera para aqui. pantera para ali.

falam numa pantera!

não fala em livros. não fala na língua portuguesa. (!)

LIGAA AAA UMMM !

( é assim cá em casa . gritamos para que vejam e nos contem outra versão. para entendermos a nossa)

o Cavaco falou numa pantera negra ?
que pantera é que adoeceu ?

- sei lá não fui a tempo.

António Lobo Antunes, um leão, ( já que falamos de bichos )luta contra um cancro após intervenção cirúrgica no dia 12 de Março.

“ Não acreditava que um dia destes chegasse.
E agora Março de 2007, veio com a brutalidade de uma explosão no peito. Não imaginava que fosse assim, tão doloroso e, ao mesmo tempo, tão pouco digno como a velhice e a decadência.
Tão reles.
O olhar de pena dos outros, palavras de esperança em quem não tem fé “
O cancro alterou “de cabo a rabo” a sua vida, mas ainda sem saber em que sentido.

Mói e mata.

Mata. Mata. Mata.

“Levou-me tantas das pessoas que mais queria. E eu. Já agora, quero-me?

Sim. Não. Sim. Não -sim.”

Há hora do almoço, no restaurante, entre um copo uma garfada e uma facada, vejo a uns vinte metros (quero distâncias) os directos na TV.

O enigma estava explicado.

A pantera não era uma pantera.

Era mais um daqueles da bola.

Chamam-lhe pantera porque é preto. (Os brancos raramente têm nome de bichos.)

Lembro-me como se fosse hoje.
Quando chegou a Lisboa comia com as mãos e chamava marisco ao tremoço.

Marcou nem sei quantos golos.

(um golo é uma bola chutada com o pé, ou de cabeça, dentro de um exíguo espaço que tem uma rede. para ser golo a bola tem que estar lá dentro.)

Uma coisa muito importante.

A diferença entre os povos vê-se quem mete mais bolas no espaço com rede.

O gajo da bola e o escritor são da mesma idade.

Um nasceu na tabanca e sabe ler as letras gordas. O outro nasceu em Lisboa é médico psiquiatra e escritor. Mais escritor que médico.

Um vai deixar o Panteão cheio de golos e de letras gordas. Ficará vizinho da Amália e do Camões

O outro vai deixar uma imensa cultura e vai acabar no Cemitério de Benfica.

Até lá vida longa e saúde para os dois!