( 757 ) OS CRAVOS DA DONA CELESTE CAEIRO.
Querem atirar-nos areia aos olhos, no entanto, em 1974, uma questão corporativa [a guerra e as equivalências de milicianos] desencadeou a contestação pretoriana que levou ao 25 de Abril, um golpe que não encontrou resistência, nem da “classe política nem do povo”.
O Estado Novo [vigência da constituição de 1933] estava velho e podre; o golpe dos capitães foi a eutanásia.
Seguiu-se a ruptura do 25 de Abril, no 25 de Novembro, e o estabelecimento do regime democrático, constitucionalizado, em 1976.
Os “capitães de Abril” regressaram aos quartéis, Mário Soares meteu o socialismo na gaveta, em 1986 entrou-se na Europa.
Trinta e sete anos depois Otelo, apelidado de salazarista e pirado da mioleira, conta a história do nome da “revolução dos cravos”:
“O restaurante onde Celeste Caeiro trabalha comemora o primeiro aniversário da sua abertura.
E o patrão mandara-a comprar flores em abundância às vendedeiras do Rossio, a fim de enfeitar as mesas do estabelecimento à hora do almoço.
Porém, com a revolução na rua, desiste da abertura do restaurante e dispensa o pessoal que ali trabalha. Alguém lhe pergunta:
“E então o que faz a todas aquelas flores? “
“Olhem, levem-nas todas com vocês “, responde-lhes o patrão. “É oferta da casa.”
Correm os empregados, assodados [sic] , ao armazém.
E aquele monte de cravos vermelhos, a flor de época mais vistosa de que as floristas dispunham para venda, celeste arrebanha um belo ramo e vai apanhar o metro que a deixa no Rossio, minutos mais tarde.
A praça vibra com o estrondear alarmante dos M47 da coluna da EPC que rolando pela Rua Augusta irrompem pelo Rossio. Atónita perante o inusitado espectáculo daquela poderosa coluna de veículos, só antes vistos em desfiles militares através da televisão, fica especada observando as manobras difíceis de executar quando aquelas bisarmas de aço procuram o acesso à Rua do Carmo.
Do alto de um M/47 um soldado pergunta-lhe:
- Ó minha senhora, tem um cigarro que me dê?
- Não tenho, não. Só tenho aqui estes cravos.
In O dia inicial/25 de Abril hora a hora /Otelo Saraiva de Carvalho/ editora objectiva/Março 2011/página 129.
A partir daqui o conto é conhecido e pertence à história.
Boa tarde.
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