05 fevereiro 2009

BERRINHOS disse : RECORDAÇÕES DE UM BANCÁRIO.


CAUTELA E CALDOS DE GALINHA….

Aquele “Balcão” era o máximo.
Não sei até que ponto é verdadeira a “estória” que vos passo a contar. Mas há quem garanta que se passou!
Naquele tempo, já lá vão perto de 30 anos não existiam revistas cor-de-rosa, nem “tertúlias-idem”, nem tias a descobrir (?) as carecas dos colunáveis, em horário matinal.

Assim, não existem registos que possam arqueologicamente atestar da sua veracidade. Mas fonte bem informada relatou-nos…
“O personagem central (X) do argumento, era conhecido pelos seus dotes de galã conquistador.
A sua fama (e proveio…) ultrapassara as fronteiras pois em terras de “Saramago” suspirava uma apaixonada que, apenas uma vez por ano, se deslocava ao nosso (e dele também…) torrão natal.


O Gerente, há pouco tempo em funções no “balcão”, conseguira criar desde que ali chegara, uma saudável cumplicidade com todos os seus colaboradores. Foi assim que X, com sinceridade plena, um dia, em que chegara do país vizinho a referida “guapa”, lhe solicitou a dispensa por uma tarde.

O desempenho das suas tarefas estava já assegurado por solícito colega que se prontificara solidariamente a sobrecarregar as suas, na expectativa de futura retribuição. Et pluribus unum!
Reuniam-se, assim, as condições para o nosso herói (X) proporcionar à sua salerosa amiga uma recepção condigna e uma digressão guiada até à linha do Estoril, após romântico almoço.
Estava inclusive previsto desfrutarem de uma bela vista sobre a baia de Cascais, desde a varanda de um apartamento que cliente simpático colocara à disposição do nosso homem - naquele tempo as invejas ainda não tinham inquinado as relações entre machos latino-portugas. Et pluribus unum – outra vez!


Faltava a anuência do Gerente que, dada a sinceridade do nosso homem, a certeza do bom andamento do serviço e compreendendo que as relações luso-espanholas, naquela altura prejudicadas pelos êxitos do nosso hóquei em patins, deviam ser acarinhadas, concedeu a dispensa.
Porém, solicitou o preenchimento imediato (em duplicado…) do impresso “oficial” para saídas em “horário laboral”.

Surpreendido, foi com algum mal disfarçado esforço, atenuado pela perspectiva de uma tarde que ansiava repetir após um ano de ansiosa espera, que preencheu o dito formulário ali mesmo sobre a secretária da Gerência.
Assuntos particulares, obviamente…, foi o motivo invocado e correcto, para o pedido de dispensa.
Consta que, à saída do Gabinete apesar do futuro romântico parecer risonho, o semblante do nosso amigo espelhava alguma surpresa e decepção enquanto se deslocava para a saída ao encontro da tarde soalheira e que se antevia aquecedora.

No dia seguinte, X entra cedo e dirige-se de imediato ao Gabinete do Gerente onde se senta com ar meio aéreo e um looking anormal.
Do tipo… como é que perdemos com o Kuwait?
Então relatou algo que justificava aquele estranho princípio de manhã.
Obviamente que fizera previamente uma ronda com o dono do apartamento atrás referido, para se familiarizar com as luzes, janelas, TV, autoclismo, etc. etc., enfim com todo o espaço que iria “habitar” embora por curta permanência.
Lamentavelmente esquecera-se de reunir a informação sobre o funcionamento do esquentador peça fundamental para permitir lavar… os dentes (!) após a almoçarada.
Claro que, sem instruções, ao tentar ligar o aparelho, chegou um fósforo ao “piloto”, aguardou…, aguardou… e provocou uma explosão que lhe chamuscou a melena e o bigode: naquela altura não existiam os esquentadores “inteligentes”…
Assim, era o tom amarelo acastanhado das zonas capilares referidas que lhe alterava a fisionomia e que o Gerente não detectara, apesar de lhe ter notado algo de diferente quando para ele olhou à sua entrada.

Foi então que o Gerente lhe chamou à atenção de para o facto de ter lhe solicitado o preenchimento do tal modelo de pedido de dispensa que tanto amofinara o subscritor.

A intenção fora tão só, perante o Banco, terem (ele: o Gerente… e ele o “ “X) uma “cobertura” legal à dispensa, para o caso de suceder algo que impedisse o regresso do dispensado ao trabalho. O que, por coincidência, por pouco não sucedeu, por (re)acção de um simples esquentador.
O duplicado ficou arquivado em pasta no Balcão, e o original, à frente do chamuscado (apesar da tesoura com que tinha tentado disfarçar “o estrago” ) foi enfiado num envelope de serviço endereçado à Secção de Pessoal *.

PS:
* Corre(u) ainda o boato que o dito envelope se extraviou, pois nunca foi recebido na Secção de Pessoal…